Na melhor das hipóteses, o livro de Atwan é uma repetição de fatos cotidianos e conhecimentos sobre o Estado islâmico. Pior do que isso, o livro está repleto de equívocos, o que faz, em última análise, com que obra seja inútil.
Por exemplo: o autor, ex-redator-chefe da al-Quds al-Arabi de Londres, afirma que a Al-Qaeda na Península Arábica (AQAP acrônimo em inglês) "já jurou lealdade ao chefe do ISIS [Abu Bakr al-] Baghdadi". Na realidade a AQAP permanece leal ao líder da Al-Qaeda Ayman Zawahiri e rejeita, de forma contundente, a afirmação do califado do ISIS. Atwan afirma que Ansar ash-Sharia da Líbia jurou lealdade à Baghdadi e anunciou um emirado islâmico em Derna em outubro de 2014. Nada disso: Ansar ash-Sharia permanece leal à al-Qaeda, ao passo que o verdadeiro nome do grupo em Derna, que jurou lealdade ao Estado islâmico, é o Conselho Islâmico da Juventude Shura.
O autor afirma contar com contatos e fontes especiais que lhe dão uma visão única do Estado islâmico. Mas uma dessas fontes, supostamente próxima da liderança do ISIS, que cumpriu pena na prisão juntamente com Baghdadi, diz que Baghdadi foi posto em liberdade em 2006, embora os registros da prisão documentem que ele saiu em 2004.
Inúmeros livros sobre o Estado Islâmico estão repletos de equívocos, mesmo assim estes livros proporcionam informações e perspectivas positivas. O livro ISIS: The State of Terror[1] (ISIS: O Estado do Terror) de Berger e Stern deixa a desejar no tocante ao crescimento do ISIS no palco dos acontecimentos na Síria, mas explora bem no quesito redes sociais. Esses aspectos compensatórios não são encontrados em O Califado Digital, uma obra também repleta de preconceitos políticos, tais como a especulação enraizada em seus sentimentos anti-Israel, de que a gota d'água que precipitou a decisão dos EUA de invadir o Iraque foi o "uso do petróleo como poderosa arma política de Saddam contra Israel". Qualquer um que estiver interessado no Estado Islâmico, leigo ou mesmo especialista − deve se abster de ler este livro.
[1] New York: Ecco, 2015.